Com a perda da caverna, nossa família de heróis cavernícolas descobre que havia um novo mundo repleto de maravilhas ao seu alcance... um Paraíso inexplorado.
Sensação parecida com a que tiveram nossos primeiros antepassados africanos ao migrar das regiões desérticas do norte da África para o paraíso tropical que eram então o hoje deserto do Saara e o Oriente Médio.
Sim, hoje essas regiões são desérticas, mas há dezenas de milhares de anos a vegetação e a fauna por lá permitiam bons padrões de vida (para homens das cavernas).
Conhecendo a arte rupestre desses povos, é possível reconstituir toda a trajetória que liga os primeiros africanos às primeiras civilizações.
Para quem pensava que os egípcios chegaram aqui em naves espaciais, lamento informar:
É, eles deixaram suas marcas nas cavernas antes de começar a construir pirâmides. Uns 5 mil anos antes de "o mundo ser criado" conforme o livro sagrado dos hebreus.
E quando começaram a construir pirâmides, foi na base da tentativa e erro. Nenhum ET veio ensinar como se faz. Eles foram errando e acertando a engenharia até chegar nas pirâmides clássicas que todo mundo conhece.
Pirâmides de Ka, Djoser e Snefru.
As pirâmides "feias" não saem muito na mídia.
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Prefiro ficar somente com as evidências concretas descobertas pela Ciência e que podem ser comprovadas, elas estão espalhadas pelos museus do mundo todo.
Fatos:
Em tempos mais recentes, quando os caldeus migraram da Mesopotâmia (antiga Suméria) carregando com eles seus mitos, como o dilúvio universal e a árvore sagrada da criação, um desses locais com vegetação luxuriante próxima aos sumérios era uma região que existe até hoje chamada Aden. Ou de acordo com a pronúncia, Eden. Fica no Yemen, na península arábica.
E lá foi escolhido o cenário para os mitos que depois seriam eternizados e causariam confusão até hoje.
Os jardins de Aden eram famosos nos tempos dos sumérios, tão verdejantes e bonitos que os sumérios concluíram que ali seria o local que os deuses escolheram para a criação da humanidade.
Aden era o lar de Adapa, personagem do mito sumério da Criação.
Adapa era um pescador da primeira geração de homens, criada pelos deuses para os servir. Adapa armou um barraco com o deus do vento, quebrando suas asas, e foi chamado aos céus para dar explicações a An, o todo poderoso deus do céu.
Logo na entrada foi tapeado por Enki, o deus-serpente senhor da terra, que o orientou enganosamente a comer determinada comida e não outra que lhe seria oferecida por An no paraíso.
Enki e An. Enki é um ser metade humano e metade serpente. |
Com o tempo e as migrações, e as mudanças de idioma, a lenda de Adapa virou a lenda de Adama, da mesma forma que os nomes evoluem e se transformam. Yeshua virou Iesous que virou Jesus, Juan virou João, etc., daí a origem de Adam, Adão. Que além de barro, também quer dizer Humanidade.
Pois é, mais um mito sumério levado pelos caldeus emigrados à terra prometida (que já tinha donos) e imortalizado no livro sagrado dos hebreus, causando uma confusão tremenda e servindo para muito sacerdote viver um vidão até hoje.
E que foi devidamente adaptado à nova condição:
Agora instalados em Jerusalém, os sábios sacerdotes declararam que Deus em pessoa botou o pé na lama e coletou o pó do local com suas próprias mãos para modelar Adão em massinha de barro...
Ué, mas essa estória não tinha sido no Paraíso?
Pois é, nas escrituras Jerusalém passou a ser o local do Paraíso. Por coincidência, a capital do reino hebreu na época.
O local ficou tão sagrado que os fiéis de Maomé tomaram conta do lugar e construíram uma mesquita em cima do local onde o prepúcio do filho de Abraão foi cortado, vizinho ao local do templo erguido para guardar a arca que transportava Deus em pessoa e derrubou as muralhas de Jericó, templo que foi destruído pelos romanos que vieram, viram, venceram e adotaram a nova religião que eles ajudaram a criar quando crucificaram Jesus e expulsaram os hebreus, que acabaram voltando para a terra prometida, e agora ninguém mais se entende.
A arte da política e do sacerdócio é complicar ao máximo para lucrar com a pilhagem e vender a salvação das almas a bom preço.
Crie um mundo fabuloso a ser temido e do qual somente você tem conhecimento dos meandros, venda o roteiro para que as almas não se percam pela eternidade no futuro, e viva no presente rodeado do ouro das oferendas, dádivas, dízimos, lucros das vendas de vidrinhos com água do rio Jordão, tijolinhos plásticos de 200 reais ou lencinhos bentos anti-radiação nuclear.
sacerdotes de Dagon, 2500 aC — papa, 2000 dC |
Tem sido assim desde o começo da Humanidade, e não faltaram pessoas tentando dar algum sentido a todo esse caldo de culturas misturado em um único livro sagrado.
E como os homens são criativos (e outros são crédulos), explicações cada vez mais mirabolantes foram engendradas para explicar(?) as contradições.
Nem todo mundo embarcou nessa canoa por má-fé; muita gente acreditou piamente nas coisas relatadas. E morreu maluca por causa disso.
Ou ganhou muito dinheiro.
Claro, depois de milhares de anos de confusão cimentada na cabeça das pessoas desde criancinhas, para se livrar dessa programação e obter entendimento é necessário ler vários livros e pesquisar várias fontes.
Mas infelizmente algumas fontes complicam mais do que explicam.
Como dá mais trabalho encontrar e pesquisar boas fontes do que comprar e ler um único livrinho com todas as explicações, mesmo que não façam o menor sentido, ou ouvir um cara convincente de que sabe todas as respostas, a imensa maioria do pessoal se contenta em pagar 10% para um atravessador fazer a parte chata da coisa e entregar tudo mastigadinho.
Em pílulas semanais em contrapartida de doações espontâneas.
Fatos são pesquisáveis e comprováveis; dogmas servem para amedrontar e subjugar.
No século 19, quando a arrogância positivista e vitoriana que pensava tudo saber ditava que trens nunca poderiam viajar a mais de 40 km/h, porque os passageiros morreriam sufocados, e máquinas mais pesadas que o ar nunca sairiam do chão, muitas teorias explicadoras tentavam conciliar as tradições religiosas com as parcas evidências científicas de então.
Em uma época em que nada se sabia sobre o deslocamento das plataformas continentais, e julgava-se possível que continentes afundassem, aventou-se a possibilidade de continentes desaparecidos como os da Atlântida, Mu e Lemúria para explicar a similaridade de fósseis em locais separados por oceanos intransponíveis.
Assim como alguns hoje levam a sério as manchetes sobre discos voadores, os vitorianos levaram a sério essas teorias, como se comprovadas fossem.
Uma das imagens que se fazia do mundo então incluía o continente perdido de Mu (supostamente existente em 70 mil aC):
Hoje sabemos que a realidade é bem diferente:
O fundo dos mares foi completamente mapeado por ecos de radar e perturbações da órbita dos satélites, a placa tectônica do Pacífico mergulha por baixo da placa da Ásia e causa terremotos no Japão, e não existe nenhum continente afundado lá embaixo.
Minha dica:
Leia, pesquise e tire suas conclusões. Saiba separar o joio (erva daninha) do trigo.
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará, já dizia o filho do homem.
Não se entregam pérolas aos porcos, porque eles as mastigarão e destruirão sem capacidade de apreciar sua beleza.
Ahh... tá... ok, então. |
Saiba identificar as pérolas de educação moral existentes nas obras filosóficas e livros sagrados, e filtre os relatos míticos herdados da ignorância de nossos antepassados usando como critério os livros científicos.
Se ambas expressam visões diferentes da verdade, Religião e Ciência não podem entrar em conflito. Se entram, uma das duas está errada.
Ah, importante:
Também saiba identificar o que é puro delírio e fantasia...
O fato de um livro ser muito lido não atesta a sanidade do autor.
Muito menos dos leitores.
Ou então, continue acreditando piamente, se você ainda não aprendeu a interpretar linguagem figurada e considere contra todas as evidências que o mundo tenha ao pé da letra apenas 6 mil anos e que a cena abaixo seja verdadeira.
Eva brotando da costela do coitado do Adão... graças a Deus, foi cesárea e não parto natural. |
Se você tiver mais de doze, sugiro pesquisar um pouco mais e interpretar a passagem bíblica da expulsão do Paraíso como uma metáfora (descrição simbólica) sobre o processo civilizatório do homem.
Homem que, para poder conviver em sociedade, teve de abandonar sua natureza animal, foi obrigado a abandonar a caça e coleta, passando a trabalhar no pastoreio e agricultura, e teve necessidade de se vestir e construir cidades. Passou a ganhar a vida com o suor de seu trabalho e foi obrigado a tornar o sexo em algo controlado e não exposto ao público.
Depois desse salto em direção à civilização, nunca mais poderia retornar à vida simples dos animais irracionais — a partir do momento em que adquiriu o conhecimento, nunca mais poderia retornar àquele paraíso.
A propósito, taí uma confusão dos diabos [literalmente]:
O que está escrito no livro (nas traduções mais próximas ao original), o grande pecado foi provar do fruto proibido do conhecimento, e não do sexo — se você tiver menos de doze anos, sexo é aquilo que a abelhinha faz com a flor.
O pessoal esperto aproveitou essa interpretação dúbia para botar a molecada comportadinha, negociando a virgindade das filhas (ou o compromisso marital dos filhos, conforme a lei da oferta e procura de cada sociedade), evitando netos antes da hora para não ter que repartir os rebanhos e bens da família, alegando que essa era a vontade de Deus.
Ih, olha lá, um ser metade humano e metade serpente... onde já vi isso? |
Por isso que tem aquela contradição, uma hora Ele amaldiçoa a Humanidade inteira por causa do sexo (o qual, segundo o livro, Ele mesmo inventou. E espalhou por todo o reino animal e vegetal), e depois manda o pessoal crescer e multiplicar na base do 1x1.
Diz o livro que as mulheres foram condenadas ao parto com dor por culpa da fraqueza de Eva.
Não é moleza ser uma mamãe kiwi. |
Ou você acha que as fêmeas das hienas gostam de não ter abertura vaginal e dar à luz dez filhotes de cada vez, todos através do clitóris?
Não consegue imaginar?
Bem, é mais ou menos como um homem se tornar mãe pelas vias normais. Ui!
Um abraço,
Jeff
Créditos das imagens / Para saber mais:
Croods: Dreamworks Animation
Saara: http://bibliotecasliticas.blogspot.com.br/2009/01/la-primera-biblioteca-que.html
Pré-egípcios: http://www.ankhonline.com/nubie_egypte/nubie_egypte_contexte_negro_africain.htm
Adapa: http://en.wikipedia.org/wiki/Adapa
http://faculty.gordon.edu/hu/bi/ted_hildebrandt/OTeSources/01-Genesis/Text/Articles-Books/Andreasen_AdamAdapa_AUSS.pdfArcanjo Miguel: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Chaos_Monster_and_Sun_God.png
Jerusalém: http://edition.cnn.com/2014/10/30/world/meast/temple-mount/index.html?hpt=hp_t3
http://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_do_Templo
Enki: http://en.wikipedia.org/wiki/Enki
An: http://pt.wikipedia.org/wiki/An
Mapa da Lemuria: www.readingthemaps.blogspot.co.nz
Mapa do fundo oceânico: http://mundogeo.com/blog/2014/10/06/satelite-cryosat-fornece-dados-para-mapa-do-relevo-oceanico/
Lemurianos: http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Lemúria_teosófica
Visão medieval da Criação: http://thejesusquestion.org/2012/09/18/culture-is-gods-idea/
Kiwi: https://geophagus.wordpress.com/2009/07/27/the-kiwis-egg/
Hienas: http://www.bbc.com/earth/story/20141028-the-truth-about-spotted-hyenas