quarta-feira, 14 de maio de 2014

14. Quase o fim do mundo

O mundo quase acabou para os Croods quando um terremoto intenso destruiu sua caverna. Não fosse o velho e bom Grug, o filme acabava em menos de meia hora.



Assim como para os Croods, a humanidade esteve à beira do fim do mundo diversas vezes, tantas que você não faz ideia. 

Em uma dessas vezes, a população foi tão diminuída que estima-se que apenas uns 1000 casais sobreviveram espalhados por todo o globo, e deles nós descendemos.


Uma das teorias mais conhecidas para explicar esse "gargalo genético" existente na história dos cromossomos humanos e de diversos outros animais era, até pouco tempo, a erupção do supervulcão Toba, há cerca de 73 mil anos.




Grupos pequenos ficaram isolados, facilitando o acasalamento (ainda não havia a instituição chamada casamento) entre parentes, o que facilitou e acelerou a taxa com que mutações se espalharam entre a população.


No entanto, estudos recentes afirmam que, apesar de as cinzas desse vulcão indonésio terem chegado até a África, sua quantidade não teria sido suficiente para provocar tamanha alteração climática. Será? Tenho minhas dúvidas quanto a isso.


Haveria outro candidato na mesma época para ser o causador dessa catástrofe que quase destruiu a humanidade?


Sim, mas não uma ameaça vulcânica: uma ameaça extraterrestre.




Esta é a cratera Lonar, localizada na Índia. Surgiu pelo impacto de um grande meteorito, supostamente há 75 mil anos. 


Hoje é um lago com 1,2 km de diâmetro. No momento do impacto, toda a rocha e solo faltantes foram pulverizados e se espalharam pela atmosfera. 


25 mil anos depois, outro grande meteorito caiu no que hoje são os EUA. Também tem 1,2 km de diâmetro, mas na época ainda não havia humanos nas Américas. 




Foram impactos muito mais potentes do que uma bomba atômica. A maior cratera produzida pelo homem tem apenas 0,4 km, é essa aí debaixo. 


Nos anos 60, quando ainda não se sabia que meteoritos podiam causar impactos explosivos iguais às crateras criadas pelas bombas atômicas, muitas crateras que hoje sabemos serem de impacto eram atribuídas a vulcões, até mesmo as lunares.



Parece uma cratera lunar, mas foi feita pelo homem.

Já havia humanos na Índia quando a cratera Lonar foi aberta, e para quem viu (e sobreviveu) foi algo monumental, inesquecível, somente explicável pela ação de deuses. 

O relato foi transmitido de geração em geração até que foi colocado em um livro sagrado.


E assim os deuses em batalha nos céus acabaram atingindo a Terra com uma arma poderosíssima. Mas essa explicação não convence a todos, há os acreditam que isso prova que os deuses eram astronautas.



Você já viu deuses parecidos. São sumérios e seus deuses voando nos céus.
E aquele deus em forma de peixe... reparou no chapéu de cabeça de bagre mitra?

Mas em Ciência não existem dogmas nem verdades absolutas: novas pesquisas apontam uma data de formação muito mais antiga para a cratera Lonar, coisa de 570 mil anos. Então talvez nenhum humano tenha testemunhado o impacto. Novas pesquisas definirão a data exata, espero eu.

Há 12.900 anos, a grande maioria da megafauna existente foi extinta por uma mudança climática. Alguns atribuem isso a um impacto na região ártica, mas a maioria dos cientistas duvida.





No entanto, na Groenlândia foi encontrado um meteorito com peso de quase 60 toneladas... essa coisa caindo deve ter feito um estrago e tanto, erguendo uma enorme massa de vapor por muito tempo, alterando o clima nórdico e abalando profundamente a cultura da idade da pedra chamada Clóvis.


Sua data da queda é estimada em 10 mil anos, mas as incertezas de datação são grandes.


De qualquer forma, foi um evento pequeno se comparado com outros que podem ter ocorrido já em tempos históricos.


Há teorias recentes de que duas grandes crises ocorridas na Idade do Bronze podem estar relacionadas a impactos de meteoritos muito grandes, capazes de provocar alterações climáticas globais.



A cratera Burckle é uma hipótese levantada pela análise de marcas de megatsunamis localizadas na Austrália e Madagascar. Megatsunami quer dizer ondas realmente grandes, mais de 100 metros de altura. Uma onda com a altura de um prédio de 30 andares, coisa de cinema.


A idade proposta para esse impacto é ao redor de 3.000 aC com uma grande incerteza para mais ou para menos.





Se o impacto daquela pedrinha lá na Rússia em 2013 causou todo aquele prejuízo, imagina o que aconteceu quando esse meteorito bateu no fundo do mar... o megatsunami acabou com todas as cidades e vilas costeiras (as regiões mais habitadas) ao redor de todos os oceanos da Terra, e lançou uma massa de vapor e rochas pulverizadas que alterou o clima em todo o planeta.


Que evidências existiriam para corroborar esse impacto?


Bem, uma das mais eloquentes é o calendário maia (e não pela piada do fim do mundo, mas pela sua data de início): 


O calendário maia se inicia no dia 11 de agosto de 3.114 aC. 





Ora, o que teria acontecido de tão especial nessa data para que os maias determinassem que aquele era o fim de um ciclo de destruição e o início de uma nova era?


Maias e astecas adoravam uma serpente emplumada que voava nos céus. Qualquer semelhança com o rastro deixado pelo meteorito de Cheliabinsk não é mera coincidência.





Impactos de meteoritos têm sido desconsiderados por puro preconceito, desconhecimento e ceticismo dos cientistas. Ceticismo é bom, evita acreditar em coisas não comprovadas. Mas dificulta a aceitação de novas teorias, exigindo que sejam bem comprovadas. O que é bom, mas demorado. Ciência é assim.


Ainda não foi comprovado que o impacto da (suposta) cratera Burckle tenha dado origem às diversas mitologias de dilúvios em todo o globo. 



Mil anos mais tarde, mais uma vez diversas civilizações avançadas da Idade do Bronze entraram em colapso quase que simultâneo. O evento parece ter sido um período de seca que durou um século.

Isso causou fome generalizada e migrações em massa de povos que buscavam a sobrevivência. Sobrou para o Egito, que teve que combater os "povos do mar"; na verdade, vários povos europeus e do Oriente Médio que fugiram das condições precárias de suas terras. 




Mas a crise também havia afetado o Egito:



"As águas produtivas do Nilo estão transbordando,
Os campos não são cultivados,
Ladrões e andarilhos vagueiam e
Estrangeiros invadem o país, vindos de todos os lugares.
Doenças imperam e as mulheres estão estéreis.
Toda a ordem social desapareceu,
Os impostos não são pagos e
Templos e palácios estão sendo insultados.
Aqueles que um dia desfilaram em trajes esplêndidos, agora estão em farrapos.
Mulheres da nobreza vagueiam pelo país e se lamentam:
"Se ao menos tivéssemos algo para comer."
Os homens se atiram nas bocas dos crocodilos —
Tão fora de si estão as pessoas em seu horror.
O riso desapareceu de todos os lugares.
Só há luto e lamentações por toda parte.
Tanto velhos quanto moços prefeririam estar mortos."


"Os homens não mais velejam para o norte, para Biblos.
"Onde vamos obter o cedro para os sarcófagos de nossas múmias e o óleo para as embalsamar?""




O império acádio sofreu o impacto em suas próprias terras. Na verdade, o suposto impacto que possivelmente criou a cratera de Um al Binni ocorreu em terras acádias, numa região costeira rasa onde hoje fica o Iraque. 

O império se desintegrou após essa crise, e eis seu relato (que até pouco tempo atrás era considerado apenas uma lenda):

"Pela primeira vez desde que as cidades foram construídas e fundadas,
As grandes terras agrícolas não produziram grãos,
As terras inundadas não produziram peixes,
Os pomares irrigados não produziram vinho ou melaço,
As nuvens pesadas não choveram, o masgurum(?) não cresceu.
Naquela época, o valor de um shekel (muito dinheiro) de óleo era somente meia xícara,
O valor de um shekel de grãos era somente meia xícara. . . .
Isso vendidos a tais preços nos mercados de todas as cidades!
Aquele que dormia sobre o teto (como era costume), morria sobre o teto,
Aquele que dormia na casa, não teve funeral,
As pessoas estavam se flagelando de fome."

Essa crise foi das grandes e bem registrada por diversos povos. Mesopotâmios, hindus, chineses, povos nórdicos, todos eles relatam uma época de grande crise associada com chuvas de pedras, granizo gigantesco, tempestades de fogo, mudanças de temperatura e estações climáticas inexplicáveis (para eles).

Essas crises podem ser a origem do pensamento apocalíptico do livro sagrado dos hebreus, onde o sacrifício do bem mais querido e valioso, os próprios filhos, era algo costumeiro e sentido como obrigatório para aplacar a ira e a crueldade do(s) deus(es) que queria(m) exterminar a humanidade.

E essa não foi a última vez que o mundo esteve por um fio:


Em 1883, o astrônomo mexicano José Bonilla registrou grandes objetos passando à frente do Sol durante um dia inteiro. Ninguém mais viu, e os astrônomos europeus e norte-americanos, presunçosos e arrogantes, concluíram que o profissional se confundiu com pássaros migratórios.


Na wikipedia: Primeira foto de OVNI conhecida... hahahaha... peraí... eles estão falando sério?
As pessoas leigas e sem conhecimento pensam que essa é a prova de que discos voadores existem... nem imaginam que a realidade é muito mais simples. E muito mais assustadora.

Novos estudos feitos pela Universidade Nacional Autônoma do México concluíram que o que José Bonilla viu pode ter sido um cometa de dezenas de quilômetros e bilhões de toneladas se desintegrando tão perto da Terra que o ângulo de visão estava restrito à latitude da cidade do México.

Se apenas um desses fragmentos tivesse nos acertado (e eles passaram raspando nosso planeta à altura de nossos satélites de comunicação atuais), não haveria mais História.

Teria sido o fim do mundo de verdade.

Um abraço,

Jeff

Créditos das imagens / Para saber mais:

Supervulcão Toba: http://en.wikipedia.org/wiki/Toba_catastrophe_theory
Cratera Lonar: http://en.wikipedia.org/wiki/Lonar_crater_lake#cite_ref-6
      http://www.lpi.usra.edu/meetings/lpsc2010/pdf/1661.pdf
Cratera Barringer: http://en.wikipedia.org/wiki/Meteor_Crater 
Cratera atômica: http://pt.wikipedia.org/wiki/Operação_Sedan
Cratera Burckle: http://en.wikipedia.org/wiki/Burckle_Crater
Megatsunamis: http://en.wikipedia.org/wiki/Megatsunami
Deuses astronautas: http://en.wikipedia.org/wiki/Ancient_astronauts
Cheliabinsk: http://pt.wikipedia.org/wiki/Meteoro_de_Cheliabinsk
Calendário maia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Calendário_maia
Teoria de Duncan Steel: http://personal.eunet.fi/pp/tilmari/tilmari2.htm
Impacto ártico: http://en.wikipedia.org/wiki/Younger_Dryas_impact_hypothesis
Extinção da megafauna: http://en.wikipedia.org/wiki/Quaternary_extinction_event
Meteorito de Cape York: http://en.wikipedia.org/wiki/Cape_York_meteorite
Crise da Idade do Bronze: http://en.wikipedia.org/wiki/Late_Bronze_Age_collapse
         http://en.wikipedia.org/wiki/4.2_kiloyear_event
         http://web.ics.purdue.edu/~rauhn/FallofBA.htm
         http://www.sci-news.com/archaeology/science-collapse-late-bronze-age-civilizations-climate-change-01316.html
Fome no Egito: http://egyptologist.org/discus/messages/24/5384.html?1033936535
Império acádio: http://en.wikipedia.org/wiki/Akkadian_Empire
Dilúvio de Noé: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilúvio_(mitologia)
Dilúvio de Utnapishtim: http://pt.wikipedia.org/wiki/Utnapishtim
Dilúvio de Deucalião: http://pt.wikipedia.org/wiki/Deucalião
Le déluge de Léon Comerre - Musée de Beaux Arts de Nantes
Cratera mesopotâmica: http://en.wikipedia.org/wiki/Umm_al_Binni_lake
José Bonilla: http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Bonilla

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